Brasil campestre
Somos um povo sofrido
Que acredita em Deus devido a dor
que nos é infligida
Precisamos acreditar em algo
Já que o acesso ao saber é
privilégio de poucos
Demasiados pegaram o trem das
onze e ainda pegam
Ainda assim continuamos os mesmos
e escravos
Vendo nascer o ódio e a opressão ovacionada
A esperança paira e perpetua
aguda na janela, quanto maior a dor, maior a fé...
Ouve-se músicas antigas tão
recentes
Basta mudar o ritmo para
enquadrar na exigência do abster-se
Virar os olhos e buscar
distrações, mas a letra está ali
Como uma faca afiada mostrando
nossos passos recentes no passado
Tomamos um cálice envelhecido,
porém repleto de engenhocas
Com seu sabor disfarçado de
açucares, moldando o paladar e conduta
Tirando sempre o soberano orgulho
de nós, e tão suscetível se torna
Roda, gira, e roda, estacionando
no mesmo lugar
Casa grande e senzala, onde está
seu quarto nesta hierarquia de dois lados?
Será errante descida abaixo, medo
e esperança equilibrando
Em uma corda... prestes sempre a se
arrebentar!
Quanto tempo ainda necessitas
para voar? Será tempo ou saber?
Toma novamente o cálice!
Isto é imposto e você bebe a
contragosto.
Adocicado assenta, e servo não
mais levanta.
Quão alienado está para aceitar a
dor como benção?
Somos um povo sofrido, tolhido a
tempos de nossas fontes soberanas
Permanecendo os fracos que criam,
contam e recontam a história
Quantos agora estão de bagagem
pronta? Fugir, calar... morrer
Deixando sementes germinadas no
escuro para em outrora florescer
Vais embora, aqui não consegue
ficar com essa mordaça
Conseguiram..., sente vergonha de
sua pátria, seu povo
Esse que moldado escolhe
novamente o retrocesso
Toma desse cálice e desfalece sob
um sol frio
Saberemos sair desta encruzilhada
cheia de espinhos?
Nossos brotos poderão dar frutos
e carregar coisas boas?
Ou seguiremos revivendo e
cantando os passos mesmos de nossos pais?
Na mesma língua, na mesma
subserviência e fé?!
Luciana Maria Borges