Algum
lugar em agosto
O ser sob o olhar do outro é sempre uma nova imagem descoberta
Que pode ser escrita ou apenas vislumbrada
Como notas a refletir a melodia de um compositor.
Precisamente, necessito lhe dizer!
Tenho a impressão de que algo entre nós ficou em
desalento
Uma vontade recíproca e inconclusa
Seu corpo e olhos me disseram...
Creio ter lhe dito assim em silêncio também
Subsequentemente um distanciar
Porém algo teu ainda continua comigo... lembrança
Lhe sinto e anseio
Pode ser que seja um engano de minha parte
Mas não me importo neste instante
Agora, o que tenho é a certeza do almejo
Hoje tu, em mim, transborda e a todo instante lhe
penso
E se mútuo, então que nos permitamos!
Aflorando-nos na oportunidade de tocar através dos
lábios
Presentes em corpo e alma no instante
Se o ato parte do cerne, torna-se imortal mesmo que
breve e nunca mais... oportuno, mas essência.
Então terá valido a pena!
Deveras o que muito nos cerca são medos
Um mundo que cerceia e dita o que devemos a partir
de toda uma moral imposta
Mesmo decididos e cheios de predileções, somos
sentimentos dos quais fugimos.
Porém, caso não recíproco e tudo que meus olhos
alcançaram... equívocos... também não importa!
Se o que fica, é a grandeza de sermos em nossa unicidade
importantes ao olhar do próximo e, portanto, alegria.
Para mim continuará flamejando e logo em minhas
linhas.
Tão bonito é quanto outros lados, se somos capazes
de brilhar através do contemplar alheio, dando força em inspirar transcendência.
Expondo-lhe isso, acredite, lutei contra a vaidade
e orgulho.
O que no fundo é, quando abrimos a pele externa do
que somos, para mostrar o que de fato pulsa na alma.
Em momentos tão confusos, por milhares de vezes ser,
mais fácil é fugir da reflexão sobre o que de fato sentimos.
Então ter coragem de praticar o que descobrimos de
nosso interior!
E se me perguntares: Por quê?
Não saberia lhe dizer exatamente, tudo paira, e
apenas acontece.
Mas, para que não seja de todo uma vaga resposta...
lhe digo sinceramente que teu olhar carrega um brilho.
Como se através deste pudesse enxergar constelações
inteiras.
E ao aproximar-me, ser capaz de tocar cada estrela
em sua infinita complexitude!
Deveras, isso não explicaria tudo, visto que ainda
tem todo um conjunto de fatores que o tornam único!
Como por exemplo teu jeito singular e encantador de
andar. Mãos pequenas e finas quase femininas, também firmes e fortes.
Pele morena aveludada trazendo consigo o frescor da
juventude. Um cabelo tão lindo, castanho liso, que usa para cobrir os olhos
quando tímido.
Com voz tão singular quanto o caminhar, grave e
vacilante, que bem trabalhada, poderia alcançar tonalidade baixo e barítono.
Lábios rubros de desenho perfeito, consigo uma
pequena cicatriz no canto superior direito conferindo-lhe charme a mais. Um
comportar-se alegre, profundo como se em constante reflexão.
Mesmo assim, tudo isso é pouco para descrever-lhe,
és indescritível e resumidamente mágico! Mostrando-se igualmente uma incógnita,
ainda bem!
Em sua individualidade subjetiva que descobre o
mundo e anseia vivências, logo um universo mutável, formidavelmente lindo e
finito.
Pensando-se que a vida é um suspiro passageiro em
que o valer a pena consiste no presente bem vivido.
Às vezes é necessário despir-se das ilusões. Por
isso confio ser justamente melhor a certeza do não, que a incerteza de um
possível sim!
Luciana Maria Borges